O medronheiro, apesar aparentemente parecer uma árvore, há casos que até chegam a ser maiores que estas, é na verdade, tal como referimos no último artigo, um arbusto. E essa é a chave para entendermos todo o processo de formação da nossa planta. Se é um arbusto por muito que até possa ter um porte arbóreo, ele vai sempre comportar-se como aquilo que é e por isso vai ramificar sempre desde a base.
A questão que se levanta e que muitas vezes abordam é, então e valerá a pena efetuar sempre a poda ao nosso medronheiro? A resposta é, se o interesse for produzir fruta, então temos de potenciar a produção do fruto, logo, e como em qualquer outra fruteira, sim temos de podar! E sim, sempre! Mas não confundamos sempre com muito e intensamente.
Quando bem aplicada e feita da forma correta, a poda pode transformar um simples arbusto espontâneo num produtor de medronhos de excelência. Para tal, temos de entender como funciona a biologia da nossa planta. Já dizia, Vieira Natividade, “a poda não tem por fim contrariar a árvore, mas aproveitar as suas potencialidades naturais”.
A poda tem um impacto direto sobre a planta, por um lado, no crescimento e na frutificação (mas atenção que quem sai sempre favorecido, regra geral, é o crescimento), e por outro, reduz o crescimento total que existia sem a poda. Ou seja, poda é crescimento. Então, mas se a poda é crescimento em que medida é que contribui para a qualidade do fruto?
Em primeiro lugar, há que entender que a poda dos ramos velhos vai permitir aos cloroplastos [organelos vegetais responsáveis pelo processo de fotossíntese], enviar e concentrar toda a energia produzida para os ramos mais novos, e é na ponta destes ramos que se encontram os nossos gomos florais e os cachos de fruta.
Em segundo lugar, uma copa bem arejada e aberta, com uma boa exposição solar, trava a necessidade de crescimento do nosso medronheiro e consequentemente a planta fica mais pequena e por isso os açucares essências ao fruto mais concentrados. Como é lógico, uma copa mais baixa vai também favorecer o processo de colheita, tornando-a mais eficiente.
Por fim, a remoção de ramos velhos e doentes diminui o risco de propagação de pragas e doenças, garantindo saúde e rejuvenescimento à planta, que por sua vez estimula a produção de ramos mais novos, permitindo alongar o período produtivo do medronheiro.
Quando, na primeira metade da primavera, o nosso medronheiro entra em atividade vegetativa, os processos fisiológicos como o crescimento e desenvolvimento (que inclui não só a planta como a maturação dos frutos), a fotossíntese, a respiração e a transpiração, aumentam. Por outro lado, nesta fase a nossa planta já não tem gomos florais, o processo de cicatrização de feridas acontece mais rápido, por isso a nossa tesoura de poda deve entrar nesta altura.
Em suma, podar exige tempo, investimento e conhecimento, mas os benefícios que daí advêm compensam largamente o esforço. Ao investir na poda, estamos a investir na qualidade dos nossos medronhos, na rentabilidade da nossa produção e na sustentabilidade da nossa exploração.