O medronheiro, tratando-se de um arbusto com porte arbóreo, que tem distribuição praticamente por todo o território continental português, leva-nos rapidamente a crer que a sua produção de fruto é um processo extremamente fácil.
Ora, quem tem medronheiros e está familiarizado com a planta, já certamente reparou na particularidade da flor desta planta, a corola [Receptáculo dos estames e do pistilo das flores] tem um formato de campânula invertida e com dimensões que raramente ultrapassam os 8mm.
Este pequeno pormenor, associado ao facto da floração ocorrer entre outubro e dezembro, precisamente o momento em que ocorre a maturação e colheita do fruto do ano anterior, faz com que rapidamente percebamos que a polinização se torna bastante importante.
Então vejamos, desde a flor ao fruto, o medronho leva cerca de 12 meses para se desenvolver. Portanto, se a flor da planta que estamos a colher no ano corrente, não vingar, ou seja, não se reproduzir, então no ano seguinte essa flor não vai dar, seguramente fruto. É aqui que entra a importância da polinização.
Sim, é verdade que o medronheiro é capaz de autopolinizar, na teoria. Mas na prática, pensemos, se as flores são em formato de campânula invertida e se estão dispostas em cachos de 15 a 30 flores nas extremidades de cada ramo, então raramente (para não dizer nunca) o pólen de uma flor vai conseguir entrar noutra flor apenas por ação da gravidade, e até mesmo do vento, já não tão raramente, mas algo caricato a sua probabilidade de ocorrer, tal é a trajetória necessária para que cada partícula de pólen consiga contornar a inversão da campânula de uma outra flor.
É invariável, se temos medronheiros e queremos produzir, estamos altamente dependentes doutro fenómeno para que se dê a reprodução das nossas flores, o fenómeno chamado polinização.
E atenção, não pensemos que a polinização aqui no caso dos medronheiros é realizada apenas e somente pelas nossas Apis melifera, ou abelhas do mel. Pois se é verdade que estas desempenham um papel fundamental, há ainda outro ser extraordinariamente importante e talvez em muitos casos ainda mais importante, o Bombus terrestris lusitanicus ou Abelhão.
Esta outra espécie de abelha, tem a particularidade de ao contrário das abelhas do mel, começarem a partir de meados de outubro e até finais de novembro resguardarem-se em ninhos subterrâneos para iniciarem a hibernação com a chegada do inverno. Este é um processo que apenas é realizado pelas fêmeas, mas a verdade é que durante esses dois meses vão captar alimento ao máximo para criarem reservas, e é aqui que entra o Medronheiro.
O Abelhão, tem ainda outra particularidade a sua morfologia, de maiores dimensões, permite uma maior penetração das patas nas flores, e consequentemente muito mais captação de pólen que as próprias abelhas do mel. Claro que a semelhança do abelhão há ainda outros insetos como a própria borboleta do medronheiro, passando pela abelha carpinteira que são igualmente importantes na polinização.
Existe, portanto, dois fatores de extrema importância que o produtor de medronho deve considerar, a existência de condições favoráveis ao aparecimento do Abelhão na sua exploração, e acima de tudo o grande local para a hibernação destes magníficos obreiros, o Solo.