A colheita do medronho é uma das atividades mais icônicas das regiões onde o medronheiro cresce de forma abundante. Para muitos, ela representa uma tradição que vai além do simples ato de colher frutos. É um reflexo de uma herança cultural profundamente enraizada, que conecta gerações e comunidades. No entanto, por trás dessa prática que tanto valoriza o território, existe um desafio crescente que precisa ser debatido.
A colheita é um dos maiores desafios para o produtor de medronho. Ao contrário de outras culturas, atualmente ainda não é possível mecanizar o processo de colheita. A floração que dará o fruto do ano seguinte, em simultâneo com o fruto do ano, e a delicadeza do medronho tornam a mecanização um processo difícil – pelo menos por enquanto.
Em produtos como a aguardente de medronho, a integridade do fruto é crucial para garantir a qualidade final de excelência. Por outro lado, a sazonalidade da colheita significa que os produtores precisam mobilizar trabalhadores apenas em períodos específicos do ano, dificultando a manutenção de uma força de trabalho estável. Além disso, com a exigência técnica do processo, é crucial que os trabalhadores estejam capacitados. Quando as equipas de trabalho mudam todos os anos, os produtores precisam investir, a cada colheita, tempo e recursos na qualificação.
Outro desafio é a dificuldade em encontrar trabalhadores locais disponíveis para a atividade agrícola. A migração para os centros urbanos e a competitividade de outros setores económicos tornam este problema ainda mais complexo. Nos últimos anos, tem sido comum recorrer à contratação de trabalhadores estrangeiros. Embora essa solução traga vantagens, ela também impõe barreiras linguísticas, culturais e sociais – mas esse é um tema para outro artigo.
O medronheiro, por sua vez, cresce muitas vezes em terrenos acidentados e montanhosos. Embora os pomares possam ser feitos em áreas planas, é essencial respeitar a preferência da planta por barrancos e vertentes. Isso faz com que a mecanização seja quase impossível, e a colheita exija esforço físico significativo e condições desafiadoras, o que afasta ainda mais potenciais interessados.
Apesar de todas essas dificuldades, este desafio pode ser uma oportunidade de transformação para o setor. Já existem iniciativas promissoras, onde a inovação tecnológica pode auxiliar no processo de colheita, mesmo que a mecanização total esteja ainda distante.
Além disso, a valorização cultural e a capacitação são cruciais. Os programas de qualificação específicos para a colheita do medronho podem não apenas aumentar a eficiência do trabalho, mas também criar uma nova geração de profissionais dedicados ao setor. Este é um caminho que a Monte do Milhano, Sociedade Agrícola, LDA tem vindo a explorar.
Mas não esqueçamos o último grande aliado conquistado pela agricultura, o Turismo! O agroturismo é uma forma de transformar a colheita numa experiência rica e educativa para visitantes, ao mesmo tempo que gera benefícios económicos para os produtores. Essa abordagem combina tradição, sustentabilidade e inovação, promovendo o medronho como símbolo de identidade e excelência.
A crise da mão de obra não é um problema isolado do setor do medronho. Reflete as mudanças sociais e económicas que impactam várias áreas rurais. Mas, com criatividade, cooperação e valorização do território, é possível encontrar soluções que fortaleçam o setor e revitalizem as comunidades rurais onde o medronho desempenha um papel tão importante.
