Quando se ouve falar em Medronho, há imediatamente duas palavras que nos soam no cantinho da cabeça: Aguardente e Algarve. Curioso que ambas as palavras começam pela letra “A” e que na verdade tudo o que a elas está ligado começa também pela primeira letra do alfabeto. Ou não tivessem tido os Árabes tanta influência no território mais a sul de Portugal Continental.
Desde a presença dos árabes na Península Ibérica, o medronho tem sido um recurso natural amplamente aproveitado na região, especialmente nas serras do sul de Portugal. Os árabes, com seu vasto conhecimento das plantas e dos recursos naturais, perceberam o valor do medronho, utilizando-o principalmente para a produção de bebidas alcoólicas, como aguardente. A invenção do alambique, instrumento que permitiu a destilação, também é atribuída aos árabes, que trouxeram essa técnica para a Península Ibérica. Embora o medronho nunca tenha sido cultivado sistematicamente, a sua fruta selvagem sempre foi colhida e aproveitada pela população local.
Mas, no coração de Portugal, há uma região que vai mais além do Tejo, há uma região chamada Baixo Alentejo, terra de outrora planícies douradas, agora convertidas a planícies esverdeadas, que esconde, nas baixas, mas imensas serras. Sim, o Baixo Alentejo não é só planícies, é também terra de Serras. Terra das de Adiça e de Alcaria, das de Beringel e de Aljustrel, das de Caveira e de Grândola, das de Ficalho. E nesta imensidão de gentes e terras, há um tesouro muitas vezes ignorado: o medronho.
O Alqueva trouxe a todo o território do Baixo Alentejo uma segunda oportunidade a uma terra que estava esquecida. Trouxe tecnologia e inovação a um setor, e bem. Mas, não só de um setor se vive e pode viver, e os ovos, esses não podem estar todos no mesmo cesto. A água tem essa capacidade de transformação. É neste contexto que surge a pergunta: por que não fazer do medronho um símbolo de inovação e resiliência para o Baixo Alentejo?
Este recurso, muitas vezes subestimado, pode ser mais do que aguardente. O medronho é uma cultura resiliente, capaz de se adaptar às adversidades climáticas e econômicas, tornando-se uma alternativa viável para os produtores da região. Ele pode representar o futuro do Baixo Alentejo, não apenas como um produto tradicional, mas como uma peça-chave para o desenvolvimento económico, social e cultural da região.
Para que o medronho se torne uma verdadeira base de desenvolvimento, é fundamental investir em novas tecnologias e práticas agrícolas sustentáveis que aumentem a rentabilidade do cultivo. Além disso, é essencial criar uma identidade forte para o medronho do Baixo Alentejo, promovendo a sua origem e autenticidade por meio de certificação e apoio institucional. O medronho pode, assim, tornar-se não só uma tradição, mas um motor de inovação.
A aposta na investigação e desenvolvimento, será crucial para explorar todo o seu potencial. A valorização do medronho pode também incentivar o surgimento de novas empresas e iniciativas locais, criadoras de valor, que aproveitem este recurso para o desenvolvimento de novos produtos e serviços. A criação de uma rede de colaboração entre produtores, cientistas e empresas locais pode abrir portas para um mercado sustentável e inovador.
O Baixo Alentejo tem nas suas serras e campos um recurso natural único que pode ser um verdadeiro diamante em bruto. Transformar o medronho num símbolo de inovação e crescimento exige, antes de tudo, uma vontade coletiva e uma visão estratégica para o futuro. Com o apoio das políticas públicas e a participação ativa de todos os envolvidos, é possível gerar novas oportunidades e redefinir o futuro da região.
É tempo de olhar para o medronho com a ambição e o orgulho que ele realmente merece. Ele tem tudo para ser mais do que uma simples tradição. Pode ser o segundo motor da economia do Baixo Alentejo, contribuindo para um crescimento sustentável, que respeite as suas raízes e projete a região para o futuro.